Contos e Crônicas

A Máquina do Tempo Escondida nos Livros

Era um dia chuvoso de domingo, quando a luz suave do entardecer atravessava as cortinas semiabertas, criando um clima de melancolia no aconchego do meu lar. Nesse cenário nostálgico, mergulhado em um turbilhão de pensamentos, uma ideia brilhante e inusitada surgiu em minha mente: ler. Avistei a estante repleta de livros que, ao longo dos anos, foram meus fiéis companheiros de aventuras e conhecimento.

Meu olhar atento era o reflexo da paixão que nutria por desvendar os mistérios do passado, a fim de compreender o presente e vislumbrar o futuro. Um desejo empolgante encheu meu coração de entusiasmo e imaginação. Imagine só, poder viajar pelo tempo, testemunhando os eventos históricos, conhecendo grandes personalidades do passado e explorando épocas distantes.

Decidido a explorar essa ideia fascinante, comecei a desenhar esboços e esquemas para a uma máquina do tempo. Teorias complexas e ideias mirabolantes tomaram forma no papel, enquanto minha empolgação crescia exponencialmente. Imaginava como seria atravessar as barreiras do tempo e embarcar em jornadas que desafiassem o conceito linear do passado, presente e futuro. A perspectiva de possuir uma máquina do tempo parecia quase mágica, algo saído das páginas de um dos meus livros favoritos de ficção científica.

No entanto, à medida que aprofundava em meus estudos e pesquisas, percebi que a máquina do tempo, tal como a vislumbrava, permanecia apenas na esfera da imaginação. As leis da física e os paradoxos temporais pareciam ser obstáculos intransponíveis. Mesmo assim, essa descoberta não me abateu, pois logo me ocorreu que, de alguma forma, eu já possuía uma máquina do tempo!

Um pensamento chamou minha atenção: "A Máquina do Tempo Existe: São os Livros". Curioso e imaginativo, deixei-me envolver pela ideia de que talvez, de alguma forma mágica, aqueles livros escondam portais para o passado.

Ao observar a biblioteca da sala, repleta de livros alinhados meticulosamente em prateleiras, percebi que cada volume continha uma viagem pelo tempo esperando ser empreendido.

Cada livro era uma porta para um período específico da história, uma passagem para o passado ou uma janela para o futuro.  Cada lombada trazia consigo uma história única, um universo vasto e desconhecido.

Sem hesitar, decidi explorar essa suposta máquina do tempo que estava à minha frente. Escolhi um livro de capa desgastada, uma relíquia entre tantos outros. Ao abri-lo, senti como se uma corrente elétrica percorresse meu corpo, e em um piscar de olhos, me vi transportado para outra época.

Comecei a ler e, de repente, vi-me envolvido em uma sensação de expectativa. O ambiente ao meu redor parecia desvanecer-se, e uma luminosidade peculiar invadiu o espaço. Quando menos esperava, vi-me imerso em uma realidade completamente distinta, uma época que só conhecia por meio de meus estudos minuciosos.

A primeira parada dessa viagem pelo tempo levou-me à Grécia Antiga, onde pude observar os filósofos aprofundando-se em questões que moldariam a filosofia ocidental. Presenciei os Jogos Olímpicos originais, onde a rivalidade entre cidades-estado alcançou seu ápice em competições esportivas memoráveis.

Seguindo em minha jornada, atravessei as eras e encontrei-me no auge do Império Romano. Andei pelas majestosas ruas de Roma e testemunhei as grandiosas conquistas do povo romano, mas também os desafios enfrentados por aquela sociedade marcada por intrigas políticas e lutas pelo poder.

Aterrissando em outra jornada, as páginas das memórias, personagens e cenários ganharam vida ao meu redor. Meu destino agora foi uma época medieval, onde conheci cavaleiros valentes, princesas encantadoras e vilões cruéis. Percorri campos verdejantes, ouvi os galopes dos cavalos e vivenciei torneios épicos.

Quanto mais folheava, mais me dava conta de que não havia limites para minha jornada pelo tempo.

As possibilidades eram infinitas, e cada livro que se me apresentava era uma nova perspectiva e compreensão do mundo.

Ao folhear um livro após o outro, senti como se cada página me transportasse para uma realidade distinta.

Mergulhei na antiguidade das civilizações perdidas, testemunhei o florescimento das artes e ciências em épocas da Renascença, um período de efervescência cultural e intelectual. Conheci grandes mentes da época, caminhei pelas ruas de Florença, encontrando Leonardo da Vinci e Michelangelo, homens cujas obras transcendiam o tempo e ecoavam por séculos, que me inspiraram com sua genialidade e inovação. Acompanhei os eventos que moldaram o mundo contemporâneo. Viajei por diferentes lugares e culturas, vivendo inúmeras aventuras através das palavras escritas pelos autores.

Cada página me fazia absorver o conhecimento como uma esponja, sentindo-me enriquecido a cada instante.

A viagem continuou pelos séculos XVIII e XIX, presenciando as revoluções e os avanços industriais que mudaram radicalmente o curso da história. Vivi os momentos emocionantes de independência de nações e batalhas pela liberdade. Adentrei a era vitoriana, um tempo de etiquetas rígidas, passeio por romances emocionantes e intrigas palacianas. Era como se eu estivesse presente em todas aquelas histórias, um observador silencioso e privilegiado dos eventos que moldaram a humanidade.

As décadas voaram diante de mim, e em uma sucessão de saltos temporais, chegaram ao século XX. Testemunhei guerras mundiais, momentos de profunda tristeza e períodos de imensa alegria. Viajei pelos cantos mais remotos do planeta, conhecendo culturas diversas e experimentando a metamorfose do mundo ao longo do tempo.

E assim, de século em século através dessa jornada, acompanhei o tempo, absorvendo o conhecimento em sua essência pura, enriquecendo minha compreensão sobre os fios invisíveis que entrelaçam o passado ao presente. Percebi que cada época, cada evento, cada personagem histórico tinha sua parcela de contribuição para a formação do mundo contemporâneo.

Quando finalmente voltei ao meu presente, fui tomado por uma profunda gratidão pelos livros que me acompanharam nessa jornada extraordinária. Eles foram minha máquina do tempo particular, me permitindo explorar diferentes épocas, culturas e realidades sem sair do conforto do meu lar. Carregando comigo o tesouro dessas experiências temporais, senti-me ainda mais conectado à minha paixão.

Descobri que, mesmo sem uma máquina física, minha estante de livros abrigava uma rica máquina do tempo, capaz de me transportar para qualquer época e lugar. Através do poder das palavras, poderia ser um espectador, um participante e, acima de tudo, um aprendiz constante da história da humanidade.

Nesse momento, tomei consciência que as histórias escritas nas páginas dos meus livros eram mais do que meras palavras. Eram portais para uma vivência de experiências, uma fonte inesgotável de sabedoria e entretenimento. Com uma felicidade imorredoura, percebi que possuía algo muito mais valioso do que uma máquina do tempo: a eterna fonte de inspiração, conhecimento e sabedoria encontrados em minha biblioteca pessoal. Cada livro era um tesouro, um elo com o passado e um portal para o futuro.

Através dos livros da biblioteca, eu me tornava um viajante do tempo, sempre ansioso por desbravar as páginas da história e, ao mesmo tempo, encontrar o meu próprio lugar nesse intrincado tecido temporal.

A partir desse dia, meu desejo de possuir uma máquina do tempo transformou-se ardorosamente em um apreço profundo por meus livros. Eles eram companheiros inseparáveis, e cada nova leitura era uma oportunidade de enriquecer minha mente e meu coração. Minhas pesquisas e narrativas ganharam uma profundidade única, permeada pela vivência pessoal de ter viajado através das eras. Sabia que o passado era uma fonte inesgotável de sabedoria e aprendizado, e que, por meio dos livros e de minha própria curiosidade, seria eternamente um viajante incansável da máquina do tempo chamada história.

Com o coração repleto de aprendizado e saudade das jornadas vividas, prometi a mim mesmo continuar a explorar a máquina do tempo que existe em meus livros. Pois, afinal, nunca estarei verdadeiramente sozinho enquanto tenho a magia das palavras e as histórias que me aguardam em cada página ainda não lidas.



Transição das Estações: Do Inverno à Primavera em Campos do Jordão

Em maio principia o inverno em Campos do Jordão. Tempo das grandes geadas noturnas, dos dias claros, lindíssimos, de deliciosa pureza celeste, o frio seco e o ar muito fino, de uma doçura divina.
Ah! A primavera há de reinar! O inverno nunca falha em se tornar primavera! As ruas da cidade ficarão cheias de flores. Será um encanto! 
Alegria para os amantes... perfume de amor.... nessa estação, primavera, as ruas irão amanhecer cheias de flores... cativantes.... Será uma primavera cheia de fragrância. Sairemos à rua e sentiremos o perfume da alegria. Passarinhos cantando e Campos do Jordão mais colorida. 

É a primavera na montanha, tuchado de flores por toda a parte, com infindáveis cores! Tudo lindo! Essa estação promete, é a época do ano mais alegre e viva! Será uma profusão! A cidade vira um encanto, um sonho! 

Ah! Amo flores. Meu pequeno jardim começa no meu coração... e as flores, são as sombras de Deus. Acredito que seja verdade, pois ao contemplá-las sentimos o amor que Ele tem por nós! Campos do Jordão, o Jardim do Brasil, continua do jeito que Deus criou!


Maurício de Souza Lino,
Bibliotecário,
Historiador
Professor,
Escritor.




"O Encanto das Montanhas: 
Minha Paixão por Campos do Jordão".


As montanhas sempre me fascinam. Nada me encanta mais do que as montanhas. Nasci numa delas, na Serra da Mantiqueira, Campos do Jordão. Sou montanhês, jordanense. Sinto-me honrado e privilegiado em nascer aqui. Tenho uma relação intensa de amor com essa montanha. Sou apaixonado por ela; paixão não tem limites.Não eu mesmo sei explicar esse amor. Me sinto livre, em meio a grandes morros e lombas. Que maravilha andar acima, se embrenhar em suas matas, às vezes densa, às vezes não, e ver a paisagem sob uma perspectiva diferente. Estou apaixonado! Sinto as mais diversas sensações de estar em contato com essa natureza. Sou como um cabrito montanhês, que fica sempre nas alturas apreciando a paisagem. Há cachoeiras, lagos, beleza e mistério. O ar é mais puro. A montanha me preenche, me eleva... me faz sentir quão pequeno sou...um pequeno homem das montanhas. O prazer da vida próximo à natureza é fascinante!

A montanha me faz um desafio a mim mesmo, fazendo com que eu conquiste minhas dúvidas; um desafio saudável, ao proporcionar paisagens belíssimas. Sim, viver nessa montanha alta e fria, me incita. É maravilhoso e difícil descrever. Um sentimento de paz e sensação de liberdade, reina completamente. Um lugar verdadeiramente especial e um cenário perfeito. Uma visão panorâmica de Alpes.

Gosto de viver nas montanhas de Campos do Jordão. É uma amizade de altitude, de montanha! É o meu habitat convencional. Suas montanhas e serras, à distância, azuis, chamam-me a atenção. Sinto-me seguro, nessa aventura única de viver. Sinto e respiro seu ar salubérrimo. É inexplicável a sensação que se tem.

As montanhas de Campos do Jordão além de fascinantes, são exuberantes, lindas e imponentes. Montanha poderosa, suntuosa, estática, impávida e colossal. Elas me dão motivação e me inspiram... onde brotam as melhores flores de altitude... onde inúmeros jardins encantam os olhos. Montanhas que moldam a felicidade e a simplicidade da vida. Isto é Campos do Jordão!

Escrevo nas montanhas. Alguém já disse que todo ser humano quer viver no topo das montanhas, mas a verdadeira felicidade consiste em escalá-las, dominá-las. A natureza me lembra que não somos invencíveis..., mas a fé move montanhas... a paixão move montanhas. É uma viagem ambiental. Campos planos, lombas, colinas, onde altas árvores mascaram os raios do sol. Todo verde, como aquelas fotos perfeitas que se acham em revistas de viagem. Campos verdes que nos deixam a paz.

Eu me apaixonei por Campos do Jordão. É a minha montanha! O dia é lindo, a sensação de frio seduz, instiga... É uma montanha magnífica. Sua paisagem é deslumbrante, uma visão panorâmica incrível. Morros, serras e cumes, vales e rios. Sensação de gratidão e plenitude. É sublime!   


Maurício de Souza Lino,
Bibliotecário,
Historiador,
Professor,
Escritor.



                                                                A Flor que Nasceu no Brejo

Era uma vez uma flor que nasceu no meio do brejo...

Um brejo não é um pântano. Um brejo é um lugar de luz, onde a grama brota na água e a água escoa para dentro do céu. Córregos vagarosos serpenteiam levando consigo a esfera do sol até o mar, e aves de pernas compridas alçam voo com uma graça inesperada — como se não tivessem sido feitas para voar — em meio ao rugido de mil garças.

Então, dentro do brejo aqui e ali, um pântano de verdade rasteja até lamaçais baixos escondidos em florestas úmidas. A água do pântano é parada e escura, porque engoliu a luz lá dentro da sua garganta lamacenta. Até os animais noturnos são diurnos nesse antro. Há sons, claro, mas, em comparação com o brejo, o pântano é silencioso, pois sua decomposição é um trabalho das células. A vida apodrece, exala seu fedor, e volta a ser uma turfa decomposta; um comovente chafurdar de morte que gera vida.

Enquanto o pântano recebe água de rios e da chuva e é pobre em nutrientes, os brejos são alimentados por águas subterrâneas ricas em minerais. Os brejos são terrenos abundantes de matéria orgânica. Os brejos são ricos em nutrientes e a vegetação é bastante variada. Além de plantas que precisam de mais luz, também são encontradas muitas espécies de insetos e anfíbios. O brejo também é o habitat de muitos pássaros, como o quero-quero, maçaricos, pernaltas, e diferentes espécies de patos.

O brejo é fonte de rios em cabeceiras e nascentes, frequentemente em zonas onde eles transbordam – formando um aspecto alagado. O brejo é encontrado em diversos espaços no meio ambiente. Os brejos são comumente confundidos com os pântanos. Isso porque ambos os terrenos são aparentemente abandonados e lamacentos.

O pântano é caracterizado por ser uma área com diversas vegetações, já o brejo, é composto apenas por barro e água. Em grande parte do tempo, o pântano é um local inundado. No entanto, o brejo pode ter fases de mais barro que água – inclusive, tornando-se uma área de risco para atolamentos.

Os pântanos se formam em locais onde o escoamento de água é muito lento. Portanto, ela se armazena e permanece empoçada. O brejo é o próprio escoamento lento.

A vegetação de brejo é formada predominantemente por uma variedade de ervas fixas no fundo, flutuantes livres ou flutuantes presas no fundo, dentre outras. Contudo, pode apresentar algumas árvores e arbustos. Aguapé, Cavalinha, Copo de Leite, Flor de Lótus, Lírio do brejo, Ninfeias, Papiro do Egito, Papoula d’água, Pingo Dourado, Vitória Régia, taboa e outras.

Não podemos deixar, como diz o ditado “a vaca ir para o brejo” nós é que temos que deixar a noite, o conforto da televisão e procurar o tesouro que está escondido no brejo, na excentricidade de sua flora, na riqueza de sua fauna, na sincronia melódica da orquestra de sapos e pererecas, e ainda no show de luzes dos vagalumes e pirilampos, como se as estrelas descessem na terra para compor o cenário. É assim que a natureza nos recebe, quando nos aproximamos dela, com lições de harmonia, beleza e sabedoria.

A vida cristã é semelhante ao nascimento e crescimento de uma pessoa natural. Costumo comparar esse crescimento a uma jornada montanha acima, começando por um brejo, um lodaçal. As pessoas precisam sair do brejo, e começar a andar em terra firme numa geografia que vai subindo cada vez mais. À medida em que saímos do brejo e subimos montanha acima, percebemos que existem muito mais coisas à nossa volta, porque nossa vista vai cada vez mais longe.

Os brejos não ficam nos altiplanos, nem entre os morros e colinas. Mas sim, nos vãos entre as montanhas, no fundo dos vales, onde não se consegue ver nada senão lama e plantas aquáticas, quando não, animais asquerosos (cobras, lagartos, aranhas, etc). Na lama, não se entende o amor de Deus, a salvação, a paz, o perdão, a misericórdia. Quem está na lama interessa-se apenas e tão-somente na própria diversão e prazer, na consecução de seus próprios objetivos egoístas, na própria felicidade. Lama é pecado, lagoa e brejo é o mundo e o lamaçal do pecado. Mosca é a imoralidade.

Como a borboleta na fase de lagarta, que vegeta sempre e nunca alcança as asas libertas para voar, respira os ares poluídos da terra e contamina-se com o lodo do brejo, assim é o homem natural que se consome nas areias do deserto da vida espiritual, apenas um lago lamacento cheio de lírios.

O lírio é uma flor estranha. Ela nasce na lama e tem que forçar seu caminho através da lama, da água e do lodo, para chegar até a luz do sol e mostrar sua beleza.

Desde aquele tempo, quando era jovem, um lírio do brejo se empurrou para a superfície da água, espalhou suas pétalas e refletiu a beleza do Lírio dos Vales, Jesus!

Exatamente como o lírio...

Creio que o lírio é uma das flores mais bonitas que existe. Gosto muito destes grandes copos-de-leite e dos lírios do brejo.

Dificilmente existe algo mais bonito do que um grande lírio do brejo, que chamamos de lírio d’água. Como é radiante!

E o que o faz crescer? Aquela sementinha, não obstante o esplendor que sempre brilhará nela, esteja ali dentro, está na lama. Uma sementinha lá embaixo no lodaçal, naquele brejo imundo.

Mas ela tem que se esforçar diariamente, sabendo que existe algo... Está cinzento, negro; está sujo; está imundo; está enlodado naquele pântano em que vive, e mesmo assim, força o seu caminho através da lama, do lixo, das águas, e dos lugares estagnados até que tire sua cabeça para fora, na luz, e expresse o que havia escondido ali o tempo todo.

Agora o lírio está por cima; ele é o vencedor. Ele vence a lama! Ele vence as coisas do mundo, e agora se entrega espontaneamente. Todos podem olhar para ele, sua vida... Vejam! É um verdadeiro vencedor. Não se pode dizer nada dele agora, mas apenas: “Saia da lama”; pois, ele não está na lama agora; ele está acima dela.

“Transformarei Babilônia numa terra de brejos, onde só viverá o porco-espinho. Vou varrer essa terra com a vassoura da destruição, diz o Senhor do Universo” (Isaías 14,23).

“A terra seca se transformará em brejo, e a terra árida em mananciais de água. Onde repousavam os chacais surgirá um campo de juncos e de papiros. Ali haverá uma estrada, um caminho que será conhecido por Caminho de Santidade” (Isaias 35,7-8).

Quando vemos alguém com a vida perdida, é porque o coração dela já “foi para o brejo” há muito tempo. Sentimos dificuldades em tirar o pé da lama.

Agora é sua vez de deixar o pântano...


Maurício de Souza Lino,
Bibliotecário,
Historiador,
Professor,
Escritor.



Crônica do Cricri Tenor”

“Um ortóptero com seu som excessivamente agudo, penetrante e intenso veio me visitar neste fim de outono. Entrou em minha casa, atraído pela luminosidade das lâmpadas acesas durante a noite.Tomou posse da sala e do quarto, saltitando com suas patas traseiras bem desenvolvidas, próprias para grandes saltos. Sentiu-se à vontade para cantar. Seu canto estridular provinha do movimento que fazia com suas asas. Percebi pelo som, que se tratava de um macho com seus 2,5 cm. de comprimento, de coloração parda e escura, e antenas longas. Um grilinho-do-campo.

Encantei-me com seu canto, diferente, característico. Trouxe-me à memória, lembranças da roça... percepções campesinas...

O grilinho Cricri, assim o nomeei, com seus hábitos noturnos, logo me cativou. Era só elevar-se o crepúsculo, ali estava ele, todo alegre, sorridente, cantarolando. Por alcançar notas agudas, classifiquei-o como um tenor. Tornou-se famoso pela vocalização.

Amei seu cricrilar; o dia inteiro, principalmente à noite. Gostava muito d'ouvir sua cantiga; levava-me a dormir... Seu canto muito peculiar, grave e contínuo, bem audível aos meus ouvidos, fazia-me viajar no imaginário de minha infância, enquanto aguardava o sono, depois das primeiras horas amenas... e embala-me.

Não sou entomófago. Poderia tomá-lo como um inseto de estimação, ou um hobby. Traria alegria, com seu canto, considerado uma excelente música. Poderia levar o Cricri em minhas caminhadas; colocá-lo em uma cestinha, ou caixinha, feita com graça e luxo, uma espécie de caixa acústica apropriada para ampliar seu estrilar, guardado no bolso, para ouvir seu canto enquanto caminho, admirar seus hábitos ou passar a noite cantando na cabeceira da minha cama, a fim de encontrar consolo e distração em noites solitárias.

Mas, oh vida! A inusitada paixão por Cricri, meu cantorzinho, apresentou como única desvantagem o fato de que tal inseto de estimação possui uma duração de vida curta e não resiste ao frio.

Meu companheiro das horas noturnas não permaneceu em minha residência nem uma semana. Busquei ouvir seu cricrilar, mas em vão; procurei-o na sala e no quarto, seus lugares favoritos, nos cantos, no assoalho, e nada.

Alguns dias depois, depois de muita saudade, de repente, mais que de repente, ao levantar o tapete sobre o assoalho do quarto, eis o Cricri, meu grilinho doméstico sem vida, inerte, seco, com quem lutou a noite toda para escapar daquele sufoco. Morreu asfixiado debaixo do tapete!

O vínculo afetivo é de uma semana, o que me fez sofrer ainda mais. Lembro-me de como foi a chegada dele em minha vida. Ele foi escolhido, adotado! Todo o carinho investido com a escolha do nome, “Cricri”, o local preferido para dormir, o jeito silencioso que ficava quando estava próximo.

Essas são algumas lembranças de como ele trouxe alegria em minha vida. Sua presença e cantigas de ninar fazem muita falta. Saudades do Cricri!”

Maurício de Souza Lino,
Bibliotecário,
Historiador,
Professor,
Escritor.



Aracnice, a Aranha Tricoteira de meu Jardim

Aranhas tricoteiras me inspiram. Uma teia de aranha totalmente diferente. Um tapete. Não rasga, não quebra, porque é elástica. É um talento! Com que ela borda? E onde está a agulha? É muito peculiar a forma como ela tece. Realmente não usa agulhas, mas deve ter um belo jogo de quadris para traçar esse bordado todo. Mexe as mãos freneticamente, de tal maneira que quem é de fora não consegue entender, e sai uma obra de arte!

Era uma vez uma aranha chamada Aracnice, conhecida em todos os cantos do jardim por sua habilidade excepcional. Enquanto suas amigas aranhas teciam teias delicadas para caçar insetos, Dona Aracnice tinha um talento diferente: ela tricotava.

Dona Aracnice era uma verdadeira artista. Sua teia não era apenas uma armadilha, mas sim uma obra de arte que adornava o jardim. Ela tecia com fios especiais que não rasgavam nem quebravam, pois eram incrivelmente elásticos. Sua teia era como um tapete mágico, que dançava com o vento e brilhava sob a luz do sol.

Mas como Dona Aracnice percebeu essa proeza? O segredo estava em suas mãos habilidosas e em seus quadris ágeis. Ela não usava agulhas como os humanos, mas movia as mãos freneticamente, em um ritmo hipnotizante. Suas patas dianteiras dançavam no ar enquanto suas patas traseiras se moviam com graça e destreza.

As outras criaturas do jardim ficavam fascinadas ao assistir Dona Aracnice trabalhar. Ela era tão rápida e precisa que parecia conjurar sua teia do nada. Os insetos, em vez de temerem sua presença, admiravam sua arte. Até que as borboletas se aproximassem para apreciar a beleza única da teia de Dona Aracnice.

Um dia, uma jovem borboleta chamada Bela decidiu desenvolver o mistério por trás do talento de Dona Aracnice. Ela voou em direção à aranha e perguntou com curiosidade: "Dona Aracnice, como você consegue tecer uma teia tão magnífica sem agulhas?"

Dona Aracnice sorriu gentilmente e respondeu: "Querida Bela, a arte do tricô está dentro de mim. Não preciso de agulhas, pois a teia é uma extensão do meu ser. É minha paixão e meu dom, e cada fio que entrelaço carrega um pouco de minha alma."

Bela ficou maravilhada com a resposta e ouvir que não era apenas a técnica de Dona Aracnice que era especial, mas sim o amor e a dedicação que ela colocava em cada ponto. Ela aprendeu que a verdadeira beleza reside na expressão individual de nossos talentos e na maneira como compartilhamos nossa arte com o mundo.

E assim, Dona Aracnice continua a tricotar suas teias únicas, encantando a todos com sua habilidade extraordinária. Sua história se seguiu pelo jardim, e todos aprenderam a valorizar não apenas a utilidade das coisas, mas também a criatividade e o talento que podem florescer em formas surpreendentes.

Desde então, toda vez que alguém se deparava com uma teia brilhante e excepcionalmente bela, lembravam-se da aranha tricoteira, Dona Aracnice, e da lição que ela ensinou: que a verdadeira magia da vida está em criar algo especial e único com nossos próprios dons.

Maurício de Souza Lino,
Bibliotecário,
Historiador,
Professor,
Escritor.

Sobre Contos e Crônicas


Os contos e crônicas são verdadeiras joias literárias, capazes de nos transportar para outros mundos e nos envolver com personagens cativantes e narrativas envolventes. São gêneros literários que nos apresentam com breves histórias, carregadas de significado e emoção. 

Os contos, com sua concisão e precisão, nos encantam ao condensar uma trama complexa em poucas páginas. São como pequenos universos que se destacam diante de nossos olhos, explorando temas complexos como amor, amizade, aventura e superação. São como flashes de imaginação que nos refletem sobre a condição humana e despertam nossa capacidade de sonhar.

Já as crônicas, com seu tom mais pessoal e intimista, nos convidam a mergulhar nas reflexões e observações do autor sobre a vida cotidiana. São retratos da realidade, permeados por doses de humor, ironia e sensibilidade. Através das crônicas, nos reconhecemos nas situações descritas, nos identificamos com os personagens e nos deliciamos com a sagacidade do autor ao capturar os detalhes mais sutis da existência.

Tanto os contos quanto as crônicas são formas literárias versáteis, que permitem aos autores explorar diferentes estilos e temáticas. Podemos encontrar contos de fantasia, mistério, ficção científica, romance e muito mais. Da mesma forma, as crônicas podem abordar assuntos diversos, desde as trivialidades do dia a dia até questões sociais e filosóficas mais profundas.

A beleza desses gêneros está em sua capacidade de nos transportar para um mundo imaginário ou nos fazer enxergar o familiar sob uma nova perspectiva. São narrativas que nos fazem refletir, nos emocionar e nos conectar com os sentimentos e experiências compartilhadas pelos personagens.

Ler contos e crônicas é uma experiência enriquecedora, pois nos permite desfrutar de uma história completa em um curto espaço de tempo. São pequenos tesouros literários que podemos saborear a qualquer momento, seja em momentos de pausa durante o dia, antes de dormir ou em uma tarde ensolarada.

Portanto, permita-se embarcar nesse universo encantador dos contos e crônicas. Descubra novos autores, mergulhe em diferentes estilos e deixe-se envolver pelas narrativas breves, porém impactantes. Os contos e crônicas são convites irresistíveis para explorar o poder das palavras e se perder nas páginas de um mundo de possibilidades.

Maurício de Souza Lino,
Bibliotecário,
Historiador,
Professor,
Escritor.

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