História

A bibliocleptomania 

Definida como compulsão ou vício de furtar livros, uma exacerbação da bibliomania e um problema custoso do século XXI, que é tão antigo quanto a história das bibliotecas. Bibliocleptas, ou bibliocleptomaníacos, são substancialmente bibliófilos ricos e intelectuais responsáveis por astuciosos roubos de volumes raros.

No Brasil contemporâneo, as quadrilhas e o mercado da bibliocleptomania são esquemas milionários. Laéssio Rodrigues de Oliveira é o maior ladrão brasileiro de livros raros. Seus saques vão de fotografias do funeral de Dom Pedro II até primeiras edições autografadas de grandes escritores da literatura nacional. "Minha história toda foi pobre. Ser rico é bom. É ótimo. Não estou falando 'ser riquíssimo', como esse povo que fica rico demais e aí vira essa palhaçada, essa desigualdade do caralho. Mas ser independente, morar bem, fazer o que quer, entendeu?" – diz Laéssio.

Ele também confessa: "Eu vivia num mundo encantado. Eu era uma bicha louca, desvairada, achava que aquilo nunca iria acabar, que nunca iria dar problema". Era colecionista e amante do vintage desde pequeno e especializou-se em Biblioteconomia, embora atacasse o patrimônio das maiores bibliotecas de todo o país. "Era passatempo de gente rica. Lá, eu me sentia madame". No período que passou em uma certa penitenciária, Laéssio chegou a montar uma biblioteca prisional, inspirado na ex-presidente Dilma Rousseff quando foi presa durante a ditadura militar.

A questão é muito maior do que “roubar livro velho”. Tal bibliolatria e colecionismo, porém, são históricos. Livros saqueados, por si só, remontam à Antiguidade Clássica, quando bibliotecas romanas eram ocupadas, em grande parte, por obras gregas pilhadas da Grécia. Segundo Alberto Manguel, em Uma história da leitura, “ladrões de livros eram uma praga na Idade Média e na Renascença; em 1752, o papa Benedito XIV lançou uma bula segundo a qual os ladrões de livros seriam excomungados”. Em seguida, ele cita os avisos que na época eram inscritos em obras valiosas, os chamados ex libris:
 
"O nome de meu senhor acima vês,
Cuida portanto para que não me roubes;
Pois, se o fizeres, sem demora
Teu pescoço... me pagará.
Olha para abaixo e verás
A figura da árvore da forca;
Cuida-te portanto em tempo,
Ou nesta árvore subirás!"
 
“Para aquele que rouba ou toma emprestado e não devolve um livro de seu dono, que o livro se transforme em semente em suas mãos e o envenene. Que seja atingido por paralisia e todos os seus membros murchem. Que definhe de dor, chorando alto por demência, e que não haja descanso em sua agonia até que mergulhe na desintegração. Que as traças corroam suas entranhas como sinal do Verme que não morreu. E quando finalmente for ao julgamento final, que as chamas do Inferno o sumam para sempre.”

Exemplos de bibliocleptomania vão desde a Revolução Francesa, quando as bibliotecas do clero e da aristocracia eram alvos de saques, até o Brasil atual, no qual a Universidade Federal de Minas Gerais precisou com urgência fazer um investimento milionário para a instalação de um sistema de segurança eletrônica e sensores em todas suas bibliotecas após inúmeros furtos: “o que parece atrair mais o roubo são obras antigas e a beleza das gravuras”, diz Simone Santos, diretora do Sistema de Bibliotecas da UFMG.

No universo da ficção, a personagem Liesel, de A menina que roubava livros, mais salva do que surrupia os exemplares queimados pelo nazismo alemão na Segunda Guerra Mundial. Seu primeiro furto, que inicia uma história sobre morte, narrada pela própria Morte, é o livro do coveiro que enterrou seu irmão. Aprender a ler é o acalento de Liesel em meio ao medo e a solidão.

Em 1803, nasce Guglielmo Brutus Icilius Timeleone Libri-Carucci dalla Sommaja, ou o Conde Libri, um dos maiores bibliófilos e ladrões de livros da história. Em 1841, Libri, conhecido por sua erudição e conhecimento da história do livro, conseguiu um cargo que dava acesso a bibliotecas de toda a França. Armado com tal posição, que envolvia a catalogação das obras, seu conhecimento especializado e uma enorme capa que utilizava para esconder seus espólios, estava sempre viajando pelo país e exigia ficar sozinho nos arquivos das bibliotecas. Assim, gradualmente foi crescendo sua coleção de livros, autógrafos, manuscritos, cartas, todos raríssimos e de imensurável valor.

Em 1847, estimava-se um valor de 500.000 francos para o tesouro bibliográfico (roubado) de Libri. Em 1848, houve uma revolução na França, e Libri descobriu que estava prestes a receber um mandado de prisão, mas ele não esperou por isso e fugiu para Londres. Antes de deixar a França, no entanto, ele providenciou que 30.000 de seus livros e manuscritos fossem enviados a ele na Inglaterra em dezoito baús. Logo, apesar de entrar num exílio forçado sem sua fortuna, com a venda dos livros roubados foi capaz de criar uma nova.

O Conde Libri também não hesitava em mutilar as obras, cortando páginas para exibir e vender. Ademais, Alberto Mangel argumenta:

“De acordo com o mexeriqueiro do século XVII Tallemant des Réaux, roubar livros não é um crime, exceto se os livros forem vendidos. O prazer de segurar um volume raro nas mãos, de virar as páginas que ninguém virará sem nossa permissão, com certeza movia Libri até certo ponto. [...] Por que esse bibliófilo apaixonado vendia os livros que roubara correndo tantos riscos? Talvez acreditasse, como Proust, que ‘o desejo faz todas as coisas florescerem, a posse as faz murchar’. Talvez precisasse apenas de alguns poucos e preciosos, selecionados como as pérolas raras de seu butim. Talvez os tenha vendido por pura ganância – mas essa é uma suposição muito menos interessante.”

É aí que entra o ex libris – que são marcas de proveniência bibliográfica responsáveis por afirmar a memória, com nome do dono e arte simbólica, atualmente usados em maior parte por bibliotecas. Os ex libris surgiram antes mesmo do Renascimento, entretanto, foi a partir do surgimento da Prensa de Gutenberg, em 1450, que passaram a ser mais utilizados, principalmente por colecionistas e bibliófilos. Muitas vezes, eram usados como símbolos de prestígio social, requinte intelectual e poder. Esses patrimônios são rastros de posse e da vida social do livro, assim como dedicatórias (rastros de relações afetivas), pó e amarelamento (rastros de tempo), ou até mesmo rasgos e rabiscos (rastros de uso). São, então, representações do elo entre sujeito e objeto, leitor e literatura. De acordo com Charles Lamb, "lemos melhor um livro que é nosso e que nos é conhecido há tanto tempo que sabemos a topografia de suas manchas e de suas orelhas, e lembramos que ele se sujou quando o lemos durante o chá com bolinhos amanteigados".

Inclusive, Manguel explica:

“O ato de ler estabelece uma relação íntima, física, da qual todos os sentidos participam: os olhos colhendo as palavras na página, os ouvidos ecoando os sons que estão sendo lidos, o nariz inalando o cheiro familiar de papel, cola, tinta, papelão ou couro, o tato acariciando a página áspera ou suave, a encadernação macia ou dura, às vezes até mesmo o paladar, quando os dedos do leitor são umedecidos na língua (que é como o assassino envenena suas vítimas em O nome da rosa, de Umberto Eco). Tudo isso, muitos leitores não estão dispostos a compartilhar [...]. Ocorre também que a posse física se torna às vezes sinônimo de um sentimento de apreensão intelectual. [...] Acabamos achando que olhar para a lombada dos livros que chamamos de nossos, os quais obedientemente montam guarda nas paredes de nossa sala, prontos a falar conosco e somente conosco ao mero adejar das páginas, nos permitisse dizer ‘tudo isso é meu’, como se a simples presença deles já nos enchesse de sabedoria, sem que precisássemos abrir caminho por seus conteúdos."


Referências:

Uma história da leitura (Alberto Manguel)
Los trabajos de la memoria (Elizabeth Jelin)
Os perigos de ser um exagerado (Editora Dublinense)
A história do 'maior ladrão de livros raros do Brasil' (BBC)
Obras raras roubadas são devolvidas à UFMG (Revista Gestão Universitária


Ricardo de Bury, o Bibliófilo

Richard de Bury (1287–1345), bispo de Durham e tesoureiro do rei Eduardo III da Grã-Bretanha, é conhecido como o primeiro "amigo do livro". Às próprias expensas, formou uma biblioteca de alguns milhares de livros, possuía uma biblioteca separada em cada uma de suas residências, e onde quer que estivesse morando havia tantos livros espalhados no dormitório que dificilmente alguém conseguia ficar em pé ou se mover sem pisá-los. Todos os dias à mesa ele prosseguia a leitura de um livro enquanto os outros conversavam e, em seguida, iniciava um debate sobre o tema abordado no livro.

De Bury foi o escritor da obra medieval Philobiblon, um conjunto de textos em latim sobre aquisição, preservação e organização de livros, e sobre a busca pela sabedoria, com um teor altamente apaixonado; uma defesa das bibliotecas, dos excessos do próprio autor e do livro como maior expressão da beleza humana. Em um trecho marcante, ele declara:

“Nos livros eu encontro os mortos como se estivessem vivos; nos livros eu prevejo o que está por vir; nos livros embates bélicos são travados; dos livros as leis da paz são vigoradas. Todas as coisas são deturpadas e deterioradas com o tempo; Saturno não para de devorar os filhos que gera; toda a glória do mundo teria sido abandonada ao esquecimento se Deus não tivesse fornecido aos mortais a cura dos livros.”

Richard de Bury faleceu quatro meses após terminar Philobiblon, legando sua vida e seu amor à escrita, tornando-se como um livro, imortal. Um dos primórdios da bibliofilia.

A bibliofilia é, em síntese, o amor aos livros, e acaba por bifurcar-se em amor à literatura, ou simplesmente o saber da holoteca, e amor ao objeto-fetiche, ao tesouro-livro. De um lado, livros como metaforização e decifração da vida, como subversão, como informação que se torna conhecimento e, por fim, sabedoria. Do outro, a relação física entre livro e leitor. Ambos podem ser intrinsecamente egoístas e, assim, humanos. Muitas vezes, acabam se tornando excludentes: que leitor nunca foi elogiado pelo mero ato de ler? Como se fosse um ato impenetrável, especial, distante. Para Aristóteles, colecionar livros fazia parte das tarefas do intelectual.

Entre livros sagrados, como a Bíblia e o Alcorão, e os romances de cabeceira, para Jorge Luis Borges, o livro possui uma certa santidade. Santidade essa que não somente contextualiza o culto ao conhecimento e objeto-livro, mas também uma santidade a ser preservada. O livro é o instrumento central da humanidade. Segundo Borges, os demais são extensões de seu corpo:

“O microscópio, o telescópio, são extensões de sua vista; o telefone é extensão da voz; depois temos o arado e a espada, extensões de seu braço. Mas o livro é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação.”


Referências:

Uma história da leitura (Alberto Manguel)
Philobiblon (Richard de Bury)
Los trabajos de la memoria (Elizabeth Jelin)



O incêndio da Biblioteca de Alexandria

O incêndio da Biblioteca de Alexandria é um acontecimento histórico que tem sido alvo de debate e controvérsia ao longo dos séculos. Existem várias teorias e relatos sobre o ocorrido, mas muitos detalhes permanecem incertos e sujeitos a especulações.

Acredita-se que a Biblioteca de Alexandria foi destruída em diferentes momentos e em circunstâncias distintas. O primeiro grande incêndio ocorreu durante o reinado de Júlio César, por volta de 48 aC, durante a guerra civil romana. Segundo relatos, uma parte da biblioteca teria sido danificada ou destruída nesse episódio, mas a biblioteca principal ainda teria sobrevivido.

Outro incêndio significativo ocorreu em 272 dC, durante o reinado da rainha Zenóbia, que liderava o Reino de Palmira. Zenóbia teria se revoltado contra o domínio romano e, como resultado, Alexandria foi atacada e saqueada. Durante esse período de turbulência, a Biblioteca de Alexandria teria sido incendiada e grande parte de seu acervo destruído.

Além desses eventos, outros incêndios e desgastes ao longo dos séculos podem ter contribuído para a perda gradual do acervo da Biblioteca de Alexandria. Também é importante ressaltar que existiam outras bibliotecas e coleções de manuscritos na cidade, que podem ter sofrido danos semelhantes.

É difícil estimar a extensão exata dos danos causados ​​por incêndios e outros eventos à Biblioteca de Alexandria. Muitos relatos exagerados e lendas cercam a destruição da biblioteca, e a falta de registros precisos dificulta a obtenção de informações precisas.

No entanto, apesar das perdas irreparáveis, a Biblioteca de Alexandria permanece como um símbolo poderoso da busca pelo conhecimento, da importância das bibliotecas e do valor da preservação da cultura e da informação. Seu legado influenciou o desenvolvimento das bibliotecas ao longo da história e continua a inspirar a promoção do conhecimento e o acesso à informação nos dias de hoje.

Maurício de Souza Lino,
Bibliotecário,
Historiador,
Professor,
Escritor.


Primeiro livro de Dinah Silveira de Queiroz



"Floradas na Serra". Primeiro livro de Dinah Silveira de Queiroz. (na manchete do jornal, o título saiu como “Florada”, no singular). Jornal "Correio Paulistano" SP, de 29 de julho de 1939.

Fonte de Pesquisa:

Biblioteca Nacional Digital
http://bndigital.bn.gov.br/.../literatura-a-fantastica.../
Jornal "Correio Paulistano" SP, de 29 de julho de 1939.



Primeira Biblioteca de Campos do Jordão

Houve uma festa oferecida pelas senhoritas de Campos do Jordão, na residência do sr. José Benedito Bicudo, em homenagem ao dr. José Carlos de Macedo Soares, que muito fez em prol dessa região paulista. Na imagem fotográfica, veem-se o dr. Macedo Soares e seu irmão dr. José Paulo (Tamanduá), cercados de belas moças. 

No dia dessa festa o homenageado fundou o Gabinete de Leitura de Campos do Jordão, fazendo-lhe, juntamente com sua exma. esposa, d. Mathilde Macedo Soares, um valioso donativo em dinheiro e oferecendo-lhe ainda 400 volumes de obras variadas sobre literatura e ciências, para a instalação da Biblioteca.

Sobre a Biblioteca Pública, a Prefeitura de Campos do Jordão fez aprovar a Lei nº 25 de 12 de novembro de 1948 do prefeito sanitário dr. Orestes de Almeida Guimarães, criando o Ginásio Municipal de Campos do Jordão, destinado a ministrar o Ensino Secundário que funcionou no Grupo Escolar “Dr. Domingos Jaguaribe daquele ano.

Uma biblioteca fora montada no então Ginásio Municipal em 21 de julho de 1949, graças aos esforços de dona Leonor Mendes de Barros, com a denominação “Biblioteca 21 de julho”, em homenagem ao dia do aniversário da 1ª Dama do Estado de São Paulo.
Posteriormente, essa biblioteca recebeu o nome do grande mestre Harry Mauritz Lewin, em novo prédio e com maiores dimensões, livros e equipamentos.

Maurício de Souza Lino,
Bibliotecário,
Historiador,
Professor,
Escritor.



Fundação Beneficente Martha e Erico Stickel e a Biblioteca Infantil Guilherme Monteiro Lobato

A Fundação Stickel foi instituída em São Paulo em 31 de dezembro de 1954, pelo casal Martha Diederichsen Stickel e Erico João Siriuba Stickel. No entanto, a história da instituição tem início com a chegada do industrial e empresário Ernesto Diederichsen sua mulher Maria Elisa Arens Diederichsen (Lili) à cidade serrana de Campos do Jordão SP em 1936, quando adquirem grandes áreas de terra.

Na sequência o casal inicia a construção da residência de veraneio da família, concluída em 1941. Em seguida, associados a Luiz Dumont Villares, empreendem a construção do Hotel Toriba, inaugurado em 1943.

Sensibilizados pela pobreza e pelas más condições de saúde em que viviam moradores e ocupantes dos sanatórios da cidade, em 1946, Ernesto e Lili, dr. Luiz Dumont Villares e sua esposa, dona Leonor Diederichsen Villares, deram início a um trabalho de assistência social em Campos do Jordão, que acarretou a criação do Grêmio Bernardo Diederichsen, com gestão do Reverendo evangélico, capitão Oswaldo Alves, que se destinou a atender as famílias e crianças carentes que ali se instalavam, geralmente em favelas e moradias precárias, para acompanhar o tratamento de tuberculose de seus parentes internados.

O Grêmio “Bernardo Diederichsen”, tratava-se de um Centro de Assistência Social, com o objetivo de ajudar as famílias dos tuberculosos pobres. Os recursos provinham da boa vontade e desprendimento de 3 famílias, em grande parte pertencentes à Igreja Unida de São Paulo: dr. Luiz Dumont Villares e dona Leonor Diederichsen Villares; dr. Ernesto Diederichsen Villares e sua progenitora e o dr. Erico Stickel, que havia se revelado um dos grandes amigos dos tuberculosos de Campos do Jordão.

O Grêmio “Bernardo Diederichsen” que estava sob a direção do Pastor-Capelão, enviava mantimentos a dezenas de famílias de enfermos pobres que viviam nos recantos mais escondidos da cidade de Campos do Jordão. Os doentes, ou suas famílias, eram assistidos depois de um rigoroso trabalho de sindicância. Assim, ao lado das atividades propriamente pastorais, contavam com o valioso complemento do auxílio em gêneros de primeira necessidade.

Para o trabalho de visitação, o Grêmio usava um Jeep”, doado pelo dr. Ernesto Diederichsen. Nos 3 primeiros anos tinham um “Ford 31”, que fora presenteado pelo dr. Luiz Dumont Villares, um dos mantenedores. Daí a facilidade que tinham de visitar também os enfermos da Vila Samaritana, sanatório também para tuberculosos em são José dos Campos, onde também pregavam na igreja local e na rádio. O mesmo tinham feito em Taubaté, Pindamonhangaba, Bocaina, Jacareí e várias igrejas de São Paulo.

Além dos gêneros, o Grêmio já distribuía, naqueles últimos anos, perto de 3.000 cobertores, milhares de agasalhos, remédios, já providenciava vagas e recolhia mais de 100 enfermos. No número de cobertores estava incluída a Campanha de inverno de 1947, quando podiam distribuir 2600 cobertores, com a cooperação de algumas emissoras e jornais da capital. Às famílias acima mencionadas, havia 2 anos passados, distribuíram mais de 250 cortes de casemira aos tuberculosos das pensões, por meio do Grêmio Bernardo Diederichsen”. A Igreja Unida e outras tinham cooperado com o Grêmio no sentido de minorar o sofrimento dos tuberculosos pobres, mormente no inverno, onde a temperatura chegava a 6-8 graus abaixo de zero. As igrejas e ministros, desprendidamente, enviavam agasalhos, cobertores e bíblias.

D. Ernesto Diederichsen foi um grande amigo dos humildes tuberculosos destas montanhas silenciosas, onde o sofrimento moral, a saudade dos entes queridos e as preocupações em face da enfermidade percorriam os corredores pensativos dos sanatórios e penetravam nas taperas escuras das favelas enfermas.

Após o seu falecimento, em 1949, as obras assistenciais foram assumidas por sua filha, Martha Diederichsen Stickel e seu marido, Erico João Siriuba Stickel. Na sequência é criada em 1951 a Associação Beneficente Martha e Erico Stickel, que se transformou em 1954 na Fundação Beneficente Martha e Erico Stickel.

Com imóvel próprio situado na Vila Abernéssia, Campos de Jordão, a instituição se propunha a atender famílias de baixa renda, que se instalavam em favelas e moradias precárias, para acompanhar o tratamento contra tuberculose de seus parentes internados. Incluía distribuição de remédios, alimentos, agasalhos e tratamento médico.

A Fundação se organizou para suprir as carências mais imediatas da população desprotegida, prestando um serviço assistencial gratuito, com consultório médico e dentário, raios-X e ambulância. Tinha como objetivo enviar mantimentos aos tuberculosos pobres. Não só gêneros de primeira necessidade, mas remédios, cobertores e agasalhos em geral.

Desta forma, dezenas de famílias, há vários anos, vinham recebendo mensalmente o que necessitavam para enfrentarem o frio e a enfermidade.

A instituição manteve suas atividades até a década de 1970, encerrando-se definitivamente em 1980, iniciando-se então um período de inatividade.

Após um período de inatividade, foi reestruturada em 2004 pelo filho do casal, o arquiteto, artista plástico e fotógrafo Fernando Stickel, e passou a operar em São Paulo com a missão de promover a inclusão social por meios das artes visuais. Hoje, incentiva a arte e a cultura com projetos sociais na cidade de São Paulo, chamando-se “Fundação Stickel”.

Enquanto isso... A Fundação Érico e Martha Stickel estava atuando em Campos do Jordão até a década de 1970, na Av. Brigadeiro Jordão, quando encerrou suas atividades. Após anos desativada a Instituição passou por uma reformulação em 2004 e, hoje, incentiva a arte e a cultura com projetos sociais na cidade de São Paulo, chamando-se “Fundação Stickel”. 

Depois que deixou de atuar em Campos do Jordão, a Fundação cedeu o prédio próprio ao Poder Público Municipal para abrigar a Biblioteca Infantil “Guilherme Monteiro Lobato”, onde por vários anos esteve instalada. 

O nome da Biblioteca Infantil homenageia Guilherme Monteiro Lobato, filho do grande Escritor José Bento Monteiro Lobato, falecido com 26 anos de idade, depois de ter vindo para Campos do Jordão, na tentativa da cura da tuberculose. Por vários anos, a Biblioteca Municipal Infantil, esteve instalada nesse prédio.

Nessa tentativa da cura para o filho Guilherme, o Escritor Monteiro Lobato, residiu em Campos do Jordão entre os anos de 1937 a 1940, num sobrado que adquiriu na Avenida Macedo Soares, em Vila Capivari. 

Nas dependências desse prédio, no ano de 1980, foi instalada a sede da Academia de Letras de Campos do Jordão que aí permaneceu por quase duas décadas. 

Em 2013 este prédio foi demolido e no local foi construído um novo prédio para lojas comerciais e escritórios... Hoje, estaria situada no “Fort House”, ao lado do “Cadij Shopping Center”, em frente ao atual “Center Suíço”; local onde existia a casa que pertenceu ao Embaixador José Carlos de Macedo Soares. Esta casa foi demolida em meados da década de 1990.

O casal, Izabel e Pedro Paulo, pais de Pedro Paulo Filho, instalaram a Pensão Monte Líbano nesse lugar, antes de existir a Fundação Stickel(1930-1934), residindo numa casinha de madeira, nos fundos da pensão.

O professor e escritor Walter Dalla Dea também morou neste espaço, por vários anos. Na década de 1970, o prédio abrigou o S.O.S. – Serviço de Obras Sociais de Campos do Jordão, e serviu como residência do funcionário do Banco Mercantil, sr. José Rubens.

Em 19 de junho de 2005, após uma longa, triste e tortuosa história, envolvendo desrespeito ao contribuinte, descaso e incompetência do poder público, Erico Stickel, Diretor-presidente da Fundação Stickel esteve no imóvel da propriedade, situado na esquina da Avenida Brigadeiro Jordão com a Rua Doutor Reid em Campos do Jordão, a casa onde se iniciaram as atividades da Fundação Stickel em 1954.

Esteve ali, por ter sido alertado via fone por um vizinho de que o imóvel estaria abandonado e invadido por usuários de drogas, que inclusive faziam fogueiras dentro da casa.

A Prefeitura que ocupava o imóvel por força de um contrato de comodato gratuito, e que havia lá instalado a Biblioteca Infantil Guilherme Monteiro Lobato, simplesmente havia abandonado o imóvel, sem, nem ao menos, fazer a devida notificação.

Havia destruição, imundície, pichação, portas e janelas arrebentadas, marcas de fogo e até mesmo, livros queimados. O Jornal “Estadão” esteve presente no dia 19 de junho de 2005, para provar a data, documentando com fotos.

Foi iniciado um processo judicial de reintegração de posse contra a Prefeitura, então na posse por força de contrato de comodato com prazo de 20 anos, ainda em vigência. Em seguida à reconquista da posse, iniciou-se um processo judicial por perdas e danos, com peritagem, etc. Simultaneamente o imóvel foi colocado à venda, pois os danos eram de tal monta que não valia a pena investir na recuperação do imóvel. A venda ocorreu em 17 de dezembro de 2007.

O processo por perda e danos correu por anos a fio… e finalmente se encerrou com o recebimento em 2016, da quantia líquida de R$117.670,27, que foi utilizada nas atividades rotineiras da Fundação Stickelem São Paulo.

No ano de 2013, o prédio em Campos do Jordão, onde durante vários anos, esteve sediada a Biblioteca Infantil Guilherme Monteiro Lobato, foi demolido. Hoje, existe no local um novo prédio para lojas comerciais e escritórios.

Neste ano de 2020, a Fundação Stickelcompletou 66 anos de idade, com uma Pharmacia Cultural - um espaço de exposições e onde também são realizados cursos e atividades culturais.

Erico João Siriuba Stickel, descendente de alemães, nasceu em São Paulo, a 3 de abril de 1920, filho de Arthur Stickel e Erna Hedwig Stickel. Casado com a sra. Martha Diederichsen Stickel e pai de Fernando, Silvia, Ana Maria e Roberto. Possuiu a Medalha Imperatriz Leopoldina. (A homenagem é destinada a pessoas ou entidades que se destacam por méritos nas áreas de Educação e Cultura).

Advogado, formado em Direito pela Universidade de São Paulo em 1944, colecionador de arte, bibliófilo e estudioso da Iconografia Brasileira do Século XIX.

Conviveu desde cedo com a biblioteca herdada de seu tio-avô, Johann Metz (1861-1936), depois enriquecida por seu pai Arthur Stickel (1890-1968), à qual adicionou sua própria coleção.

Parte desta biblioteca foi doada ao Instituto de Estudos Brasileiros da USP (IEB) em 2002, denominada, “Biblioteca Martha e Erico Stickel” (cerca de 2.500 volumes), e constitui a “Pequena Biblioteca” do título do livro que lançou em 2004: "Uma pequena biblioteca particular: Subsídios para o estudo da iconografia no Brasil (EDUSP, 2004)". Esta coleção também contou, durante 25 anos, com a tela Abaporu, de Tarsila do Amaral, tendo sido adquirida nos anos 1960 de Pietro Maria Bardi, em sua galeria, Mirante das Artes, e vendida a Raul Forbes em 1984.

Outra parte de sua biblioteca iconográfica, contendo livros de trabalho e edições raras (edições de época ou contendo gravuras originais), além das seções de História e Bibliografia, foram incorporadas ao Instituto Hercule Florence (IHF) em 2008 (cerca de 1.200 volumes).

Foi incorporado também ao IHF, seu arquivo de trabalho, construído ao longo de cinco décadas; formado por três grandes fichários em papel, um deles reúne 7.000 biografias de personagens relacionados à iconografia brasileira.

Foi industrial têxtil nos anos 1960-1970. Presidente da Fundação Visconde de Porto Seguro e da Fundação Martius; Diretor Superintendente de Fiação Indiana S.A; Diretor Presidente do Hotel Toriba; sócio gerente da Sociedade Agrícola e Comercial Siriuba, da Sociedade Imobiliária Toriba Ltda; secretário da Fundação Luiz Dumont Villares e Presidente da Fundação Beneficente Martha e Erico Stickel.

Em 1977, doou à Sociedade Beneficente Alemã, um pavilhão para idosos denominado, "Stickel Heim", com 17 quartos; colaborou com a implantação da Aldeia SOS Rio Bonito, participando ainda de outras obras assistenciais.

Faleceu em São Paulo, em 25 de dezembro de 2004.

Fernando Stickel, um de seus filhos, Arquiteto, Artista Plástico e Fotógrafo, ocupou desde 2004 a posição de Diretor Presidente da Fundação Stickel, em São Paulo, concentrado na Brasilândia e Vila Nova Cachoeirinha, distritos da zona Norte de São Paulo.

A Câmara Municipal deu o nome de Ernesto Diederichsen a uma das principais vias públicas, a um dos grandes e dedicados amigos de Campos do Jordão e, mais profundamente, dos que mantiveram com o destino agreste lutas titânicas e terríveis.

Amigo destas montanhas silenciosas, que foram, na realidade, uma esperança quente para os enfermos e fatigados.

Fontes de Pesquisa:
Jornal “O Puritano”, de 25 de setembro de 1950;
Jornal “Jornal do Brasil”, de 03 de abril de 1969.
Imagens:
Amauri Dolomiti ;
Fernando Stickel;
Jornal “O Estado de São Paulo”;
Google.

Links:
https://pt.linkfang.org/wiki/Erico_Stickel

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